Vladimir Magalhães, mais do que biólogo e jurista, era antes de mais nada uma pessoa que conseguia conciliar seu inegável talento acadêmico com um profundo senso ético, sobretudo no que dizia respeito à defesa da qualidade de vida e das futuras gerações.
Tinha plena consciência da importância do magistério de Direito Ambiental na formação de novos juristas comprometidos com a defesa da vida em todas as suas formas.
Uma de suas grandes preocupações era de realçar a função social do jurista em contraposição com concepções mercantilistas enquistadas no meio universitário e que estariam mais preocupadas em angariar uma carteira de clientes do que em refletir com responsabilidade acerca da importância da luta contra a degradação ambiental.
No plano pessoal, era uma pessoa extremamente gregária e fiel aos amigos. Nos últimos meses, sofreu forte abalo com a morte precoce de dois outros grandes jus-ambientalistas, José Eduardo Ramos Rodrigues, que conheceu através do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública, e Mariana Garcia Torres, que com ele participou do processo de criação da Academia Latino-Americana de Direito Ambiental.
A defesa de tese de doutorado de Vladimir Garcia Magalhães, versando sobre propriedade intelectual do patrimônio genético, na FADUSP, foi sem dúvida um dos mais brilhantes momentos da pesquisa acadêmica na área do Direito Ambiental na história da Academia do Largo São Francisco - tanto pelo rigor científico do tesista como por sua coragem em quebrar conceitos caducos mas ainda arraigados acerca de um pretenso caráter absoluto do direito de propriedade, incidente até mesmo sobre códigos genéticos existentes na natureza. Essa coragem em dizer a verdade certamente desagradava a muitos - mas, em compensação, servia como um nítido divisor de águas para aqueles que se postaram ao seu lado, na defesa da biodiversidade e de uma ordem socioeconômica mais justa.
A morte prematura de Vladimir interrompeu uma produção acadêmica em franca ascensão e certamente fará falta, numa época como a atual, em que valores como probidade administrativa, redução da desigualdade social e defesa do meio ambiente têm sido tão vilipendiados pelos políticos de plantão.
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